Quando começamos a aprender português, somos como uma esponjinha que acumula informações e nosso cérebro vai se apropriando e separando o que deve ser usado logo e o que deve ser mantido na memória, em certo estado de “dormência”. Isso é o que acontece quando aprendemos português. Então, na medida em que vamos aumentando nosso vocabulário e vamos sendo expostos a mais e mais palavras e formas de se comunicar na língua, nosso cérebro vai ficando mais hábil em separar e armazenar tudo o que estamos vivenciando. De repente, quando se faz necessário, começamos a usar aquilo tudo que estávamos guardando. Falamos errado e as pessoas repetem de maneira correta e, assim, na tentativa de acerto e erro, vamos aprendendo a nos comunicar na nossa língua materna. Agora, pergunto a vocês: quem aqui sabe todas as palavras de um dicionário de português? Somos proficientes na língua portuguesa, mas não sabemos todas as palavras que existem nela. Assim, com certeza, vamos nos deparar com alguma palavra que não conhecemos, em algum texto que lemos ou que ouvimos. Nosso cérebro vai lá, em busca, no armazenamento de informações, qualquer palavra que possa ser associada a essa nova palavra que lemos e tenta compreender o que o texto fala. Isso acontece automaticamente. O nosso objetivo é compreender o texto como um todo, o que ele comunica.
A mesma coisa acontece com o aprendizado da língua inglesa. Nossos olhos são como scanners que vão levando informação ao cérebro e este vai reconhecendo as palavras quase que instantaneamente. Esse reconhecimento chega ao cérebro como imagens de representações que vamos adquirindo enquanto vivenciamos nossas aprendizagens. Essas representações são agrupadas por similaridades e ficam arrumadas no cérebro como se separássemos grupos de cores, animais, presente, passado, futuro. Esses grupos têm significado mental e emocional dentro de nossas mentes.
À medida que vamos lendo, vamos fazendo as conexões necessárias para entender a mensagem do texto. Quando nos encontramos com palavras que não conhecemos, a tendência é que nosso cérebro se baseie em um modelo que já existe e tente conectar o significado dessas palavras com as inúmeras palavras que ele já conhece. Chamamos essa habilidade de “inferir”. Quando vivenciamos a aprendizagem, nosso cérebro passa a ser mais treinado para deduzir significados e perceber contextos. É como se tivéssemos imensas antenas parabólicas dentro de nossas cabeças. O aluno que vivencia a aprendizagem em uma segunda língua tem a força desses radares ampliada e faz conexões com maior rapidez. Ele é treinado para isso quando faz atividades em pares ou grupos, resolve problemas e se comunica na língua inglesa em sala de aula.
A liberdade que se ganha ao confiar mais nessas antenas, produz mais confiança e liberdade para que os alunos se arrisquem mais ao usar a língua sem o medo de errar. E foi exatamente assim que aprendemos a falar português. Claro que existe o erro da inferência do significado de algumas palavras e isso é natural. O dicionário continua sendo um grande aliado da aprendizagem, mas não deve ser usado como se fosse o pilar da aprendizagem na língua. Os pilares para se aprender qualquer língua, desde a materna até a segunda, terceira, ou quantas se desejem, está na imersão e vivência dessa língua; na tentativa de acerto e erro, sem medo ao se comunicar. E esse sentido e significado não estão em uma palavra do texto, mas no tom, na forma como ele é escrito ou falado, no ritmo, no contexto em que se insere e sobre o qual fala. Tudo isso nos ajuda a dar sentido ao texto que recebemos. Devemos, sim, ser estimulados a buscar o significado de palavras que não conhecemos, mas essa busca não deve ser âncora nos impedindo de voar alto nas asas de uma boa leitura ou um bom papo. O ciclo virtuoso é esse: quanto mais leio e converso, mais estou pronto para escrever e falar. Nossas parabólicas nunca param de funcionar, só precisamos ativá-las corretamente e acreditar nelas.
Referência
https://www.scientificamerican.com/article/where-words-are-stored-the-brain-s-meaning-map/