Você vê seu filho conversando com uma criança que tem a síndrome do espectro autista.
Sua reação é:
- Orgulho do seu filho
- Preocupação
- Pena
- Você fica confuso
Se você escolheu qualquer uma dessas alternativas, você tem capacitismo. Capacitismo pode ser considerado como um processo de desumanização, no qual existe a criação de um “eles” e um “nós”, que separa as pessoas com qualquer tipo de deficiência, das “ditas” normais”.
O capacitismo existe, nas maiorias das vezes, de forma sutil. Ele não permite que você veja a deficiência de alguém como parte de quem ela é e a encare como algo que ela tem. Nesse caso, o verbo “ter” trata qualquer coisa como algo que pode ser descartado ou adquirido. O capacitismo não dá ao deficiente o direito de ser quem ele é. Um cego não tem cegueira. Ele é cego! E dentro de quem ele é, sua audição e seu olfato são mais treinados e por isso, ele percebe coisas que não percebemos ou percebemos de um jeito diferente. Mas não somos, todos nós, únicos e diferentes? A unicidade não é o nosso grande tesouro?
Capacitismo questiona o mito da normalidade. Esse mito diz que há uma forma melhor ou correta de ser “nomal”. Evitar e estar atento ao capacitismo nos faz valorizar a diversidade e entender que não precisamos “consertar” alguém para que se enquadre na “normalidade”. É o mito da normalidade que alimenta a existência do capacitismo. Não existe uma forma perfeita de ser ou de viver. Existe a melhor forma que podemos ser, que traduz quem somos e quem estamos construindo constantemente. A deficiência faz parte da identidade da pessoa com deficiência.
Capacitismo é a falta de diálogo consistente e aberto sobre deficiências. Elas não podem ser encaradas como tragédias pessoais ou histórias de superação. Stella Young fala muito bem, em sua palestra sobre deficiência: “Deficiência é encarada como algo ruim e viver com ela faz de você um herói que deve inspirar os outros. Ela não deve fazer de um indivíduo alguém excepcional.”
Devemos questionar o que nos faz crer que um indivíduo com deficiência seja diferente de outro. Por que um cego que é professor precisa ser visto como alguém que alcançou algo extraordinário? Por que um surdo que chegou a um alto cargo deve ser visto como alguém especial, só por que ele “venceu o obstáculo da surdez”? Isso seria o mesmo que ter uma reportagem no jornal mais importante do dia sobre alguém que devolveu uma imensa quantia em dinheiro. Sua honestidade faz dele alguém excepcional?
Alcançar nossos objetivos e metas é algo que aprendemos em família e na escola. Porque somos quem somos. As batalhas de cada um fazem parte da construção do ser e suas experiências farão de nossos filhos quem eles serão. Todos nós somos únicos. Nossas caminhadas são únicas. A sociedade precisa refletir como um todo e rever seus conceitos sobre deficiências. O capacitismo impede que vejamos as pessoas deficientes como pessoas reais, que possuem facilidades e dificuldades, como quaisquer pessoas. Precisamos encarar nossas atitudes capacitistas e dar a todos o direito de ser quem são. Escola e família podem ser grandes aliadas nessa mudança de paradigmas e conceitos. Ser um profissional cadeirante não o faz especial. Ser comprometido, aceitar as diferenças, estudar para trazer as melhores práticas, ser honesto, verdadeiro, são caminhos, sim, que fazem a excepcionalidade de um profissional ou de qualquer pessoa. O que nos faz especiais é a nossa capacidade de viver a humanização. Pensar no coletivo e trazer a nossa unicidade para enriquecer o planeta. Viver constantemente o processo de hominização, como Paulo Freire versa. Quando nascemos, somos projetos. Nossas experiências de vida constroem nossa identidade e nos fazem Homem Agente Transformador.